2008/10/31

Calma OST

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2008/10/28

...

A maior solidão é a do ser que não ama. A maior solidão é a dor do ser que se ausenta, que se defende, que se fecha, que se recusa a participar da vida humana.

A maior solidão é a do homem encerrado em si mesmo, no absoluto de si mesmo,
o que não dá a quem pede o que ele pode dar de amor, de amizade, de socorro.

O maior solitário é o que tem medo de amar, o que tem medo de ferir e ferir-se,
o ser casto da mulher, do amigo, do povo, do mundo. Esse queima como uma lâmpada triste, cujo reflexo entristece também tudo em torno. Ele é a angústia do mundo que o reflete. Ele é o que se recusa às verdadeiras fontes de emoção, as que são o patrimônio de todos, e, encerrado em seu duro privilégio, semeia pedras do alto de sua fria e desolada torre.
Vinicius de Moraes

2008/10/27

Carta a um Amor Ausente

DR
Costumava olhar para a dança das árvores pela minha janela e sentir que tudo o que era importante estava ali, naquele balançar suave, quase eterno, como é a Natureza. Acordava com o sussurro de uma música primaveril, quando todas as cores se mostram em todo o seu esplendor, por aí, orgulhosas de si mesmas. Fechava os olhos para o toque das ondas que serpenteavam por todos os traços marcados pela história, firmes como a mão que me agarrava. Costumava partilhá-lo, contigo, e assim ficávamos, imóveis, desafiando o tempo.
Hoje a noite está mais fria, e o acordar, cada vez mais agreste e difícil, é agora uma tarefa digna dos mais corajosos guerreiros. Tocar ansiosamente os lençóis que ao meu lado estão vazios, na esperança de te encontrar, desperta para a realidade que te afastou para o mundo em que a ausência de sentidos é eterna. Maldisse horas sem fim o momento em que saíste da nossa história, como levado por uma mão divina, de um deus mais cruel do que o próprio destino. Nem esqueci a água atirada no caminho da porta à escadas, tradição de um povo milenar, para apressar o regresso de um ente querido que se vai. Mas tu não vieste. E as horas tornaram-se rastilhos incandescentes de uma bomba que não explode… nunca explodirá.
Sonhei-te minutos a fio, forçando-me a relembrar cada onda do teu cabelo, cada brilho no olhar, cada gargalhada que demos, todos os detalhes que faziam de ti quem eras, enquanto te observava, nos dias em que passeávamos pela floresta aqui ao pé da casa, que também era tua. Saí para observar as estrelas, naqueles dias em que era nosso o banco de baloiço, para cocktails de meia-noite e conversas serenas, confiante que virias comigo. Sem ti ali nada fazia sentido.
Agora, contudo, as árvores já não dançam, os pássaros já não cantam, o mar secou e nem a casa é a mesma. Caminho para outra praia, onde distintos pormenores captarão a minha paixão pela beleza, pela harmonia, pelo prazer. Trago-nos comigo em todos os passos descalça pela areia molhada, que adorávamos percorrer, a brincar, mas deixo-te aí, onde talvez te volte a encontrar… quiçá… um dia…

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2008/10/23

Calma OST


Só para ti...

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2008/10/22

Quando é que deixámos de sonhar?

“ As gerações estão a degradar-se”, frase comum que me dizem cada vez que me queixo daquela dor nas costas que a minha mãe só teve aos 40, e a minha avó muito mais tarde. As dores que outrora eram características dos entas assombram impiedosamente agora os intes, sobre os quais muito pouca gente fala. Até os AVC e os problemas cardiovasculares parecem ter chegado mais cedo! Esta semana ouvi uma amiga a falar do peito descaído, das estrias, das celulites como uma força cruel, sugadora da nossa vivacidade... Mas pior do que isso, é estarmos a perder a coragem e a vontade que deveríamos ainda ter, e deixarmo-nos levar pelo comodismo cada vez mais cedo. Não devíamos ainda estar na idade que querer mais e melhor? De sonhar?
Esta semana parei para observar os que me rodeiam, mais perto ou mais longe, e cheguei à conclusão que, de facto, estamos a envelhecer cada vez mais rápido de espírito, enquanto escondemos as rugas com cremes milagrosos e tratamentos caríssimos. Desde quando é que as mulheres de vinte e pouco aceitam que os namorados gostem de outra pessoa sem refilar, sem lutar por isso, sem se darem uma hipótese de serem felizes com quem realmente gosta delas, única e exclusivamente?! Será o medo da solidão mais um fantasma que ataca pessoas cada vez mais novas? Habituámo-nos a ouvir que a vida é demasiado curta, mas não tanto. Acredito que ainda há vários caminhos a percorrer e várias portas que podemos escolher para sermos o mais felizes possível. Se alguma não for correcta, temos tempo para voltar atrás e abrir outra, o nosso prazo de validade não expira assim tão facilmente. Teremos desaprendido a respirar fundo e a acreditar mais em nós, não aceitando se não for o melhor, lutando até lá chegarmos? Estaremos assim tão dependentes de alguém para nos sentirmos completas e estáveis, esquecendo o que é gostarmos de nós ao espelho, mesmo sem alguém ao nosso lado, a acariciar-nos as costas? É bom gostar de alguém, e querer fazer tudo por essa pessoa, mas se não somos únicas, não haverá qualquer sentido numa entrega diária, completa, cultivando uma relação que nunca será aquela que esperamos, ou que tivemos um dia. A menos que estejamos totalmente felizes com a partilha do nosso par perfeito. Se assim for, nada a acrescentar.
Sinto o mesmo relativamente à nossa apatia perante o emprego. Não sei se será por estarmos em Portugal, terra que em 2009 terá um crescimento nulo e onde o desemprego aumentará, mas olho para muitas caras e em vez de garra, vejo monotonia. Em vez de ambição, a acomodação total a um trabalho cuja remuneração alimenta o suficiente, com um horário de função pública, sem exigir nada mais, pelo menos nada daquilo que sonhámos nos sweet little sixteen. Quando é que a nossa meta começou a ser não sair do nosso mundo mais do que 100 Km, chegar a casa às cinco, receber mil e poucos euros, sentar a ver a bola e fazer isto, todos os santos dias, mesmo que tivéssemos sonhado com algo bem melhor? Não estou a dizer que as pessoas devam ser insensatas, redes de seguranças não há muitas, mas se as temos, porque não, pelo menos, almejar por algo mais e, enquanto não temos crianças a nosso encargo, como a maioria de nós, os da faixa dos vinte e tal, arriscar. Apenas isso, arriscar. Tendo um porto seguro como muitos dos apáticos desta terra têm, porque não simplesmente voar?! Pode não ser indolor… mas caramba, não nos fará melhor ao espírito, quando, aos cinquenta, olharmos para trás e virmos que, no mínimo, tentámos?
Sou adepta do relativismo cultural, e, da mesma forma, aceito qualquer ideia de assentar aos 25, de estagnar pelo mais fácil, ou simplesmente deixar de lutar e de acreditar que é possível estar melhor. Mesmo não sendo aquilo que eu quero para a minha vida (apesar de como todas nós esperar por aquele que me acompanhará nas minhas aventuras, nem que precise de tempo para lá chegar), acredito que há pessoas que o desejam. Mas, mesmo assim, olhando para as asas fechadas que me rodeiam, só me apetece questionar: Quando é que raio deixámos de sonhar?

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2008/10/20

Scent of a Woman

It's name is Code, Armani Code.


(Aconselho, é muito bom!)

Citações

After that day I cried for a week. And then I realized that I did have faith. Faith in myself. Faith that one day I would meet someone, who was sure.. that I was the one.
C in SatC

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Carta a uma Amiga num Dia de Chuva


DR

Há momentos na vida em que a nossa bagagem toma um peso maior do que aquele que podemos aguentar. A saudade vem como um exército feroz e atira-nos contra o chão, impotentes perante os dedos que vão tocando as nossas feridas, os nossos corações, relembrando alturas em aqueles abraços, aqueles beijos eram tudo para nós, quando desejávamos ardentemente que o tempo parasse no segundo em que éramos um só. Asfixiamos como se fosse impossível voltar a respirar livremente, inspirar a primeira aragem fria do inverno, sentir os salpicos do mar num pôr de sol silencioso de verão, cujo laranja reflectia misticamente o perfil daquele que ao nosso lado nos parecia um deus, único, magnífico, insubstituível. Vagueamos entre a multidão, conhecida ou desconhecida, sentindo-nos incompletos, um elo quebrado, um par de asas separadas, e achamos que nunca mais vamos sentir, viver, gozar, tudo aquilo que deixámos para trás, por um destino mais cínico do que os próprios politólogos gregos que lhe deram o nome. Enxugadas as lágrimas, passado o choque da tristeza profunda que nos remete a um pensativo cigarro numa janela solitária a observar as estrelas, erguemo-nos, como Fénix, ainda mais bonitas, mais fortes, mais graciosas, mais conscientes, melhores. Os dias em que o coração fica apertado, pequeno, vazio, são cada vez menos, e deixamos outras pessoas entrarem no passadiço que poderá levar ao não à primeira grande entrada na fortaleza que somos, onde outro alguém, há tempos atrás, conseguiu chegar. Sabemos que para isso será preciso que alguém pegue em nós e dance, cante, ria, se apaixone, e nos faça sentir as musas que somos, apreciando cada curva, cada traço, mesmo que imperfeito, no nosso corpo, na nossa cara, na nossa alma. Alguém que não tenha medo de nos sussurrar ao ouvido, de nos dizer o quanto a nossa presença alegra a sua existência, de nos apreciar, sem receio, sem limites impostos pela sociedade, assim, só porque o sente. Alguém aberto, frontal, e sensível, que nos leve às nuvens tanto quanto nós merecemos. Sim, miúda, porque merecemos isso e muito mais! E ele anda por aí, o tal, “perfeito para nós”, o que vai complementar uns seres completos como almejamos ser, cada vez mais mulheres, mais humanas. Se não acertarmos à primeira… então teremos outras hipóteses, sem desesperar, acreditando sempre que alguém compreenderá quem somos, sem nos pedir para mudar nem aquela rezinguice da manhã, ou a teimosia, ou a vontade de simplesmente sermos mulheres, femininas, quando quisermos, com ou sem saltos altos, com ou sem blush. Nunca esmoreças, saudade é portuguesa, mas nós somos lindas, únicas, e a nossa força deve acreditar sempre que um dia, um dia, voltaremos a esse nirvana com sabor a morangos com chocolate derretido e champagne, e cheiro a rosas no caminho para o banho, a cama, o Olimpo.

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2008/10/19

Calma OST


Àqueles a quem o destino prega partidas...

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2008/10/16

...

Porque é que este sonho absurdo
a que chamam realidade
não me obedece como os outros
que trago na cabeça?

Eis a grande raiva!
Misturem-na com rosas
e chamem-lhe vida.

José Gomes Ferreira

Carta a um Viajante

DR
Os dias em que o calor de Sidney não será suficiente para te aquecer à noite num quarto, sozinho, onde nada à tua volta te fará lembrar o lar que deixaste a milhares de quilómetros, virão com certeza. Como também aparecerão aqueles em que a comunicação será escassa, e a língua inóspita, que aguerridamente decidiste desafiar, parecerá um obstáculo inultrapassável na tua luta do próximo ano. As pessoas não serão todas confiáveis, nem terás a rede de segurança que tens agora, mas isso é crescer. A saudade, tão portuguesa, de tudo o que deixaste por cá invadir-te-á em momentos nos quais as lágrimas te descerão silenciosamente a cara, sem que possas evitar a vontade louca de desistir e regressar. O medo e ansiedade típicos de uma viagem à aventura serão teus companheiros fiéis, mas não lhes dês ouvidos. Sê mais forte do que eles, sê o vencedor, sempre.
Costumo dizer que a eternidade é daqueles que decidem tornar-se maiores do que a própria vida. Para isso, precisamos de voar, de nos desafiarmos ao ponto de nos tornarmos melhores nos amores, nas amizades, em tudo, na vida… Uma existência banal não nos tornará grandes, não fará de nós alguém que um dia olhará para o passado com a certeza que fez tudo aquilo que queria, que atingiu a maioria das metas desenhadas na adolescência, quando a vontade de sermos heróis um dia ainda não foi morta pela realidade, muitas vezes cruel do mundo adulto. O desafio está em ultrapassar os medos que nos prendem os movimentos, que nos limitam o voo, e erguem muralhas demasiado altas no caminho da fortaleza à qual todos almejamos chegar, tenha ela os contornos que lhe dermos.
Vai, com a certeza que terás sempre ao voltar vários braços abertos para te acolher, e afagar a cabeça de orgulho pela tua coragem e determinação. Constrói o caminho que a ti te tornará melhor, independentemente da distância que terás de percorrer, porque nós, por cá, estaremos sempre contigo, a olhar-te de longe, sem te esquecer. Seremos sempre o teu porto seguro, ao qual poderás recorrer sempre que precises, nos dias de maior tempestade, prontos a, pelo menos com as nossas vozes ou apenas palavras escritas, levar-te uns raios de sol. É para isso que aqui estamos, para te ajudar a voar, nunca para te prender.

Beijo


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Momento OST



(a última música a passar hoje, no meu caminho para casa, depois de uma noite de sensualidade ao rubro. :P)

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2008/10/15

Conexão Edimburgo-NY II

Naquele quarto na zona oeste, pertinho do edifício espelhado das Nações Unidas, enquanto abria a mala de uma recém chegada a uma cidade misteriosa, ela recorda todos os passos que a levaram até lá. Olha para a paisagem totalmente diferente daquela a que estava habituada no seu país à beira mar plantado, e, na sua mente, frames das escolhas que fez vão passando à sua frente. A viagem tinha sido calma, o grande desafio de uma vida naquele mundo ainda não tinha mostrado toda a sua força, e a anestesia ainda de tudo o que estava para trás tornava-a um ser mais resistente do que talvez seria. Ao retirar as roupas, uma a uma, para o pequeno armário, já antigo, mas suficiente para o início de uma nova aventura, deparou-se com a fotografia que mais gostava daquele que tinha ficado do outro lado do oceano - uma, a caminho da universidade escocesa, onde passou seis meses inesquecíveis, que uma amiga lhes tirara por trás, num dia em que tudo neles conjugava, desde as cores que vestiam, ao pequeno toque de mãos enquanto caminhava, já que ambos nunca tinham sido pessoas de grandes demonstrações públicas de carinho. Aquele quadro, muito bem desenhado, reflectia a calma das caminhadas da dupla, fosse nas voltas pela cidade, ou pelas viagens que fizeram juntos, numa simbiose perfeita.
Antes de viajar, pensara muito nas consequências que esse passo traria àquela relação, e à sua vida. Esteve ainda bastantes meses no seu regresso a casa parada, a reflectir, à espera, que Edimburgo fosse mais perto, ou que o tempo acelerasse o reencontro, desejos impossíveis de realizar e ela sabia-o. Muitos haviam sido os dias em que passava à frente do computador, sozinha, sem saber se era melhor responder ou cortar o cordão que os unia. Também não queria ser ela a desistir dos sonhos que construíram juntos, e que um passado mal resolvido e uma culpa imponente minavam diariamente. Acima de tudo ela reconhecia que mais do que os quilómetros que os separavam, tinham vidas bastante diferentes, que os afastavam tanto quanto os aproximavam, e isso era o mais difícil de gerir. Sabia que muitas vivências que teria seriam melhores se partilhadas com ele. Aliás, a partilha e comunicação tão característicos deles eram algo que ela adorava, especialmente nas manhãs em que se cumprimentavam e contavam os sonhos alucinantes que ambos tinham tido, desde os jogos de futebol perdidos às lutas pela sobrevivência em castelos escuros e sangrentos, invadidos pelas hordas de monstros mágicos que viam nos filmes ao domingo à tarde, ou liam nos livros de génios da criatividade. Como se compreendiam… soltado num suspiro imenso, enquanto arruma a foto numa das gavetas da mesa-de-cabeceira daquele quarto demasiado branco, que teria de decorar com as cores fortes, das quais precisava para acordar com força todos os dias. A separação não foi fácil, e sabia que ele estava com outra pessoa, numa escolha mais difícil do que a sua, num risco capaz de perder tudo o que tinha de mais bonito. Mas a decisão estava tomada e era do futuro o timing certo que os esperava, ou não.
Retirou da mala um a um os vestidos que a faziam sentir feminina. Tinha dentro de si demasiadas personagens, que se completavam, e coexistiam agora numa paz que transparecia a todos que a conheciam. Era ora feminina e bastante sensual, ou punha uns ténis e deixava dominar a criança brincalhona e alegre que sempre havia sido. Na maior parte dos dias conseguia conciliar ambos, forçando a aparecer o sorriso que ameaçava desistir nos dias mais escuros, cobertos por uma densa nuvem negra, visível apenas aos olhos dos mais atentos. Com ele sempre conseguiu libertar todas as personagens que habitavam dentro dela, e sentia no olhar dele um agradecimento eterno, por ser como é.
Com o quarto parcialmente arrumado, com aquele toque que a mãe dizia que dava a todos os seus espaços, decidiu sair à rua, e conhecer a cidade que nunca dorme. Precisava de Nova Iorque mais do que no emprego precisavam dela. Ao contrário da maioria das pessoas, quanto mais rodeada de gente precisasse de estar, mais significativa era a solidão que sentia, sabendo que a paz, essa, encontrava-a nos momentos em que estar sozinha, sem fantasmas do passado, era uma delícia passada sem dar conta, naqueles 25 anos que já pesavam nas rugas dos olhos dos risos dados, das mil e uma expressões que tinha, das ansiedades que por vezes eram mais que muitas.
Desceu as escadas em madeira daquele prédio que se assemelhava àqueles que via nos filmes e nas séries da Big Apple. Era Janeiro, estava um frio tenebroso, e ele não estava lá para aquecer as mãos inevitavelmente geladas. Ia conhecer o edifício onde iria trabalhar no próximo ano… Que rumo teria a sua vida, a partir daquele dia?

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2008/10/14

Caminho para o Jardim - Final

No desespero daquela queda que o levará ao único fim inevitável, Rigel sente duas mãos, bem diferentes, a segurá-lo por momentos. Estagnados, em margens opostas do abismo que enfrentava o seu pequeno pé-de-amora, os deuses que o haviam criado fitavam-se sem se mexer, esperando o momento em que um deles soltasse a planta, permitindo assim a sua sobrevivência. De um lado, uma figura feminina, cabelos longos e cristalinos, como se por ela descessem suavemente milhares de flocos de neve, nenhum igual, todos perfeitamente desenhados; as mãos frias mas carinhosas, espelhavam aquele ser, o Gelo personificado, magnificamente poderoso e belo; a tez tinha um toque dourado, misturado com o rosa de uma orquídea real, sensual e macio, por onde os dedos não se cansam de percorrer. De outro, um deus magnânimo, de horizontes mais quentes. O cabelo pareciam chamas de uma fogueira de Julho, que calmamente faz crepitar as Flores da Escócia, cujo estalido era, nas noites quentes dos santos, o prenúncio de amor correspondido nos corações dos mais novos; o olhar transmitia a força do oceano que o acompanhava sempre, num tumulto apaziguado há muito dentro dele, onde, quem o olhasse atentamente, encontraria a paz nos dias mais conflituosos. Tentando conter a paixão louca que poderia naquele momento matar o que tinham cultivado, tentam a todo o custo segurar, sensatamente, o elo que os unia, que simbolizava o tempo em que conseguiram unir almas e corpos, numa simbiose invejada por muitos, temida por tantos outros. O Tempo, inimigo cruel das divindades, afastou-os, esperando na separação um esquecimento gradual e a perda das memórias conjuntas, enfraquecendo-os, guardando para si a Felicidade que poderiam criar. Munch, que tanto desafiava Rigel, aliou-se ao Tempo para aprisionar um dos deuses, embrutecendo-o, e apagando da sua mente os momentos em que a perfeição era possível, e atingível, todos os dias. Remetida ao seu palácio feito de sombras e luz, a deusa foi mantida em cativeiro, comunicando com a metade que a completava, através dos sonhos da planta que os unia. Cansada, nos poucos dias em que tudo era mais forte do que a força que a caracterizava, decidia abrir os olhos e deixar de sonhar, de comunicar, de aguentar o barco que andava há demasiado tempo à deriva, sem chegar a si, sem chegar ao rumo, afundando cada dia um bocadinho mais no lodo da monotonia e do comodismo da vitória de Munch e do Tempo. Abrir os olhos agora seria fatal para a pequena planta…
Assim que o Sol se levantou, o Jardineiro e os filhos, com o rádio a pilhas que os acompanhava sempre, prepararam-se para voltar àquele jardim, que deixaram para irem de férias. Secretamente, desejavam que, ao regressar, todas plantas tivessem sobrevivido aos dias sozinhos. Abrem a porta de ferro meio enferrujado, com motivos árabes, por onde passa rapidamente um gato preto, luzidio, que tão bem conheciam. Afagaram-no por momentos, era o porteiro fiel das visitas àquele paraíso. A uns passos da entrada, encontram uma lagartixa num pranto invulgar, mágico, como se alguém lhe tivesse tocado o lado mais negro dos seus sentimentos, dando-lhe formas de expressar a dor nunca antes vistas. Ao lado, em paz, caída no chão, uma planta linda, com uma flor de uma beleza rara, deixara de sentir o vento e o sol, o calor daqueles dias de Outono, e já não temia o frio do Inverno que se aproximava. Rigel morrera.

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2008/10/13

Quarto de Século


Obrigada aos presentes, aos que não puderam vir, a todos os que se lembraram. Foi uma noite muito especial mesmo. :)
(algumas fotos estão deitadas, mas não consegui virá-las, passadas três ou quatro tentativas, não sei porquê. Também...é só inclinar a cabecinha uns segundos. :P )

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2008/10/12

12-10-1983

Birthday of a M(ed)use!

2008/10/06

...

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti.
Alexandre O'Neill

06-10-1932

Granny's Birthday!

2008/10/05

Patsy

1999-2008

2008/10/02

Arrumações OST



É ao sentir estas vibrações que tenho orgulho nas minhas fortes raízes latinas, da sensualidade das nossas curvas acentuadas, da profundidade dos nossos olhos castanhos e das ondas perfeitamente delineadas dos nossos cabelos. Do ar quente que temos, no mais frio dos invernos, e dos sorrisos de uns lábios vermelhos, carregados, numa cara com um perfil lindíssimo. Da nossa tez trigueira e do balançar das nossas mãos num movimento capaz de seduzir o mais resistente herói, da alegria que sentimos nos primeiros acordes de uma guitarra ou de um violino, sejam eles para o fado, o flamenco, o tango, ou qualquer outro som tão nosso. Somos assim, irresistíveis, somos muito latinas!

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02-10-1960

Mummy's Birthday!