Carta a uma Amiga num Dia de Chuva
Há momentos na vida em que a nossa bagagem toma um peso maior do que aquele que podemos aguentar. A saudade vem como um exército feroz e atira-nos contra o chão, impotentes perante os dedos que vão tocando as nossas feridas, os nossos corações, relembrando alturas em aqueles abraços, aqueles beijos eram tudo para nós, quando desejávamos ardentemente que o tempo parasse no segundo em que éramos um só. Asfixiamos como se fosse impossível voltar a respirar livremente, inspirar a primeira aragem fria do inverno, sentir os salpicos do mar num pôr de sol silencioso de verão, cujo laranja reflectia misticamente o perfil daquele que ao nosso lado nos parecia um deus, único, magnífico, insubstituível. Vagueamos entre a multidão, conhecida ou desconhecida, sentindo-nos incompletos, um elo quebrado, um par de asas separadas, e achamos que nunca mais vamos sentir, viver, gozar, tudo aquilo que deixámos para trás, por um destino mais cínico do que os próprios politólogos gregos que lhe deram o nome. Enxugadas as lágrimas, passado o choque da tristeza profunda que nos remete a um pensativo cigarro numa janela solitária a observar as estrelas, erguemo-nos, como Fénix, ainda mais bonitas, mais fortes, mais graciosas, mais conscientes, melhores. Os dias em que o coração fica apertado, pequeno, vazio, são cada vez menos, e deixamos outras pessoas entrarem no passadiço que poderá levar ao não à primeira grande entrada na fortaleza que somos, onde outro alguém, há tempos atrás, conseguiu chegar. Sabemos que para isso será preciso que alguém pegue em nós e dance, cante, ria, se apaixone, e nos faça sentir as musas que somos, apreciando cada curva, cada traço, mesmo que imperfeito, no nosso corpo, na nossa cara, na nossa alma. Alguém que não tenha medo de nos sussurrar ao ouvido, de nos dizer o quanto a nossa presença alegra a sua existência, de nos apreciar, sem receio, sem limites impostos pela sociedade, assim, só porque o sente. Alguém aberto, frontal, e sensível, que nos leve às nuvens tanto quanto nós merecemos. Sim, miúda, porque merecemos isso e muito mais! E ele anda por aí, o tal, “perfeito para nós”, o que vai complementar uns seres completos como almejamos ser, cada vez mais mulheres, mais humanas. Se não acertarmos à primeira… então teremos outras hipóteses, sem desesperar, acreditando sempre que alguém compreenderá quem somos, sem nos pedir para mudar nem aquela rezinguice da manhã, ou a teimosia, ou a vontade de simplesmente sermos mulheres, femininas, quando quisermos, com ou sem saltos altos, com ou sem blush. Nunca esmoreças, saudade é portuguesa, mas nós somos lindas, únicas, e a nossa força deve acreditar sempre que um dia, um dia, voltaremos a esse nirvana com sabor a morangos com chocolate derretido e champagne, e cheiro a rosas no caminho para o banho, a cama, o Olimpo.
Etiquetas: Cartas
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Esses momentos tão únicos e especiais,indizíveis, intraduzíveis em palavras, passam na nossa vida, efeméros e inefáveis como uma brisa de mar em dia de tempestade. Nada pode agarrá-los, amarrá-los ou prendê-los, e no entanto, permanecem connosco por uma vida inteira, tornam-se memória do que já foi, esperança do que virá, e vontade de fazer o presente, de criá-lo com as nossas mãos.
Tentamos antecipar o futuro, prever o amanhã, revivemos o passado e mergulhamos em saudade com cheiro a alfazemas, adormecemos em sonhos difusos que se tornam nítidos num olhar cúmplice, num abraço transparente e quente, num beijo húmido que se eterniza.
Baixamos as nossas defesas ao que parece ser a verdade absoluta, para depois erguermos barreiras de medo e desilusão, até nos rendermos á tristeza infinita... Mas mesmo sem saber, já temos o bilhete para o voo que nos levará a esse outro lugar, esse outro espaço onde não só seremos nós mas também o outro, indivizível, inseparável. Já temos o bilhete, já sabemos qual é o nosso porto, simplesmente o nosso navio ainda não chegou, e recusamos partir num navio cujo destino não seja o nosso.
Não existe maior destino que amar.
Passamos demasiado tempo também a olhar para o passado sem conseguirmos enxergar o que está à nossa frente, neste momento, presente, que é o único que deveria contar. Passamos muitas horas com vontade de amar alguém, sem nos darmos conta do importante que é gostarmos do ser que sorri para nós, ao espelho, todas as manhãs. Passamos horas infindáveis, a contar o tempo que foi desde esse beijo húmido, esses lençóis com cheiro a alfazema, o abraço quente, que outrora nos envolveu como se não houvesse amanhã. Mas houve. E o amanhã veio frio e distante, deixando-nos sozinhas à noite na companhia dos grandes escritores lusófonos, que alimentam o espírito, mas não acariciam o corpo. A desilusão e a desistência na fé do ser humano invade-nos sem darmos conta e imobiliza os nossos movimentos, o nosso raciocínio e a nossa sensatez. Tornamo-nos cinzentos e lamacentos, sem deixar brotar um único pé de amora, e fechamo-nos no secretismo da nossa desconfiança. Este é um beco sem saída, no qual não nos queremos enfiar. Por isso, sim. Esperamos pacientemente o nosso navio, como quem aguarda num cais de tons neutrais, belíssimo, como aquele onde o Daniel Day Lewis vê a Michelle Pfeiffer na Idade da Inocência. E enquanto isso, temos de gostar de quem somos, de nos sentirmos bem sozinhas, de reconciliarmos os fantasmas que poderão ficar do passado.
quero parabenizar a autora pelo conteúdo do texto e da maneira como se expressou. deixar também um elogio aos comentários feitos, com especial destaque ao da rita. :)
pouco me resta a acrescentar a tudo o que foi mt bem escrito, apenas salientar que curiosamente à pouco tempo pensava sobre o que escreveram, aquilo que ficou p trás e o que estou a viver hoje.
mt contente por estar a conhecer a equipa da fnac, dançar com 2 bailarinas incríveis, fazer novas amizades... ;)
ainda falta mt a melhorar, mt caminho a percorrer e em cada dia há uma coisa p descobrir! :)
beijinhos p as meninas ;)
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