2008/11/30

Rigel's Bday OST

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2008/11/20

Nós, os Intes...

Enquanto uns se sentem invisíveis, eu passei a semana a questionar o que seremos nós efectivamente, os dos meios intes. Num famoso programa de TV diziam que os novos trinta eram os cinquenta, e muito do que referiram estava certíssimo, mas nem por uma vez referiram como ficam os vinte e tal nessa equação. Já não somos a rampa de lançamento para os estáveis trinta, com tudo definido, mas não podemos igualmente considerar-nos uma adolescência tardia, somos demasiado maduros para isso, pelo menos a maioria. Seremos então um mero gap caótico da adolescência à procura de nós mesmos que inicia nos trinta, o grupo invisível que vai lutando sem reconhecimento ou consciência de si? Ou o patamar essencial que é erradamente esquecido na análise da nossa evolução, fundamental para a descoberta do nosso eu?
Sendo nós os bebés Eco, os nascidos nos anos 80, somos uma geração diferente, transitória, de um tempo em que a vida aos 25 estava definida, para um estado em que a vida começa efectivamente aos 40. Mas, como em todas as transições, é este meio em jeito de cobaia, de ensaio, que tem de aguentar as indefinições do que já não é e do que não se sabe se irá alguma vez ser correcto ou definido. Uma amiga dizia-me “somos umas folhinhas ao vento, a aguentar o inverno todinho, com todas as chuvadas e ventanias”, como os que são criados para suportar intempéries, incertezas de uma existência que supostamente se atrasa. O que isto diz de nós? Que temos de ser a geração dos super-heróis, daqueles que se reinventam diariamente para descobrir uma forma milagrosa de encontrar o caminho certo. Somos os destemidos cidadãos do mundo, porque assim temos de ser, não porque nos sintamos mal no sítio onde estamos. Ainda assim, poucos são os que se lembram de quão importante esta nossa fase é, esquecendo-nos páginas a fio de livros técnicos de ajuda e de como se ser completo a partir dos 30, 40, 50… A verdade é que, sem saber como vamos, muitos sabemos para onde queremos ir, quem queremos ser ou o que recusamos na vida, mesmo que isso vá da ambição mais pequena à mais desmedida. Talvez nem precisemos mesmo desse tipo de literatura.
De salientar são também os nichos próprios das fases de passagem, de grupos que permanecem atrás, outros mais vanguardistas, e aqueles que não sabem onde se encaixar. Se há uns anos era o mais normal casar aos vinte e pouco, ter filhos antes dos trinta, com emprego e casa e roupa lavada, hoje a normalidade está dispersa em grupos bastante distintos e que se reconhecem com apenas uma observação atenta, sem análise detalhada. Ao grupo daqueles que não seguiram o ensino superior, normalmente, e que mantém fielmente esse padrão de outrora, vistos frequentemente nos passeios de domingo à tarde em casal, nos jantares a par em casa ou escolha conjunta de tudo o que um lar num futuro (próximo) precisa, opõe-se aquele que se acha ainda muito novo para esse estilo de vida, que não tem dia para sair, não pede a ninguém permissão, não se justifica e o nós que conhece é o de um grupo de amigos/as, únicos inseparáveis e insubstituíveis da sua vida. No meio estão aqueles que, apesar de manterem o padrão de relação, são aventureiros para escolher o enriquecimento da individualidade acima de tudo, atrasando por motivos de força maior a vida dos primeiros. São os que se integram tanto no primeiro grupo como no segundo, sabendo gerir muito bem o tempo e o espaço social e privado. Claro que isto é apenas uma generalização, não é um dogma, nem aplicável a todos, apenas ao mundo que me rodeia, por mais pequeno que seja, que eu gosto bastante de observar. Importante é esta diversidade de padrões deste “nós”, os de vinte e tal, parecidos com os de trinta e poucos vanguardistas e tão longe dos mesmos conservadores.
Recuso-me a considerar então que somos o patamar caótico, mas sim a essência daquilo que se seguirá, mesmo que ainda não nos dêem o devido valor, sabendo que será do que definirmos, em conjunto, que virá a próxima mentalidade. Dentro desta nossa incerteza temos os meios para escolher, agir, decidir, e nem todas as gerações podem orgulhosamente aclamar-se como detentoras deste poder, mesmo que invisível. Sempre me ensinaram que é impossível agradar a gregos e a troianos, portanto pelo nosso pé e a nossa vontade lá chegaremos, nem que para isso tenhamos de aguentar, ou até mesmo provocar, tempestades. Simplesmente porque nós, os de vinte e tal, podemos.

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2008/11/16

O que queres fazer quando cresceres?

Quando crescer quero voar. Não quero ser uma mera marioneta de um sistema pensado por aqueles que não me representam e me verga a uma existência obediente. Quero saltar. Não quero fazê-lo porque é assim que tem de ser ou pensar o que os outros já raciocinaram. O Mundo tem ainda demasiadas coisas a serem descobertas e criadas, e outras tantas que só eu sei... e só eu posso mostrar.

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2008/11/07

Só para rir um bocadinho...

... a nossa primeira vez (minha e da Rita) no kuduro, aqui. (E sim, os outros é que se estavam a enganar muito. ehehehehe)

2008/11/06

Momento Danone

"Gosto de ti 86400 segundos por dia!
Teu, Contabilista"

:)

Are you?

Adeus Português

Nos teus olhos altamente perigosos
vigora ainda o mais rigoroso amor
a luz dos ombros pura e a sombra
duma angústia já purificada

Não tu não podias ficar presa comigo
à roda em que apodreço
apodrecemos
a esta pata ensanguentada que vacila
quase medita
e avança mugindo pelo túnel
de uma velha dor

Não podias ficar nesta cadeira
onde passo o dia burocrático
o dia-a-dia da miséria
que sobe aos olhos vem às mãos
aos sorrisos
ao amor mal soletrado
à estupidez ao desespero sem boca
ao medo perfilado
à alegria sonâmbula à vírgula maníaca
do modo funcionário de viver

Não podias ficar nesta casa comigo
em trânsito mortal até ao dia sórdido
canino
policial
até ao dia que não vem da promessa
puríssima da madrugada
mas da miséria de uma noite gerada
por um dia igual

Não podias ficar presa comigo
à pequena dor que cada um de nós
traz docemente pela mão
a esta pequena dor à portuguesa
tão mansa quase vegetal

Mas tu não mereces esta cidade não mereces
esta roda de náusea em que giramos
até à idiotia
esta pequena morte
e o seu minucioso e porco ritual
esta nossa razão absurda de ser

Não tu és da cidade aventureira
da cidade onde o amor encontra as suas ruas
e o cemitério ardente
da sua morte
tu és da cidade onde vives por um fio
de puro acaso
onde morres ou vives não de asfixia
mas às mãos de uma aventura de um comércio puro
sem a moeda falsa do bem e do mal

Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura
por ti


Alexandre O'Neill

2008/11/04

Momento OST

Sobre Margarida*

"Grande nome, Margarida, não tem equivalente masculino e somos mesmo tentados a dizer que não tem equivalente algum, devido às suas qualidades numerosas e ao seu carácter inatingível. Nome verdadeiramente precioso que põe aquelas que o detêm sob a invocação do essencial, Margarida é efectivamente "a pérola", essência amadurecida numa matéria misteriosa. Ela eleva ao mais alto nível tudo o que a distingue. ela é primeiramente símbolo de intensidade: forte ou fraca, generosa ou egoísta, sombra ou luz - ela é como um forno de alquimista, destinada a apurar sem cessar subtilmente os traços individuais que lhe são confiados.
O dom de amplificação, do aprofundamento, do exagero por vezes, explica bem os destinos tempestuosos: a paixão, a inteligência, a vontade no seu máximo podem transformar-se em autênticos demónios. A ousadia conduz ao desconhecido as acções mais banais: na obscuridade de uma humilde existência como na luz da ribalta, Margarida vai sempre mais longe do que ela mesma. Para o melhor ou para o pior.
Etimologia: do persa "margaritis", a pérola, nome que futuramente designaria uma flor."


* Num livro de simbologia de nomes, cujo título há muito esqueci

Carta ao Silêncio

DR
A primeira vez que te encontrei estavas num lugar tenebroso, tocado pelo frio de uma mão malévola, a qual temia como ameaçadora da minha própria vida. Tudo à tua volta era estranho, inóspito, e imaginar-me contigo era uma tortura da qual fugia com todas as minhas forças.
Procurava o som da chuva, do vento, dos acordes que, no máximo da sua potência, saiam da minha aparelhagem nos dias em que o meu quarto se tornava uma porta aberta à tua entrada. Percorria as ruas mais movimentadas, sem fim definido, para, com o andar frenético das gentes e o murmúrio de centenas de transeuntes apressados, nos seus caminhos de formiga, do trabalho a casa, impedir a tua vinda, que me desesperava. Não adormecia sem o barulho da TV, ruído impessoal que se tornava a minha arma infalível contra o monstro cruel que, assim que tudo se calasse, me roubaria a alma e sugaria a essência, tu. Trauteava na minha mente, sem cessar, cânticos antigos, de Wagner ou Tchaikovsky, génios das bandas sonoras de grandes batalhas, como aquela que empunhava contra ti, todos os dias, esperando destruir até a tua memória. Eras o espelho demasiado fiel, que reflectia tudo aquilo que em mim não desejava ver, os cantos obscuros da minha existência, onde se escondiam os medos e a cobardia.
Assim caminhei pelos anos que foram mais teus do que meus, sem te vencer, tentando ouvir a tua voz que se aproximava com a entoação de uma melodia distante, até à qual ia caminhando, sem medo. Um dia estiquei a mão e toquei-te, sem dares conta, levemente, na tua pele escamosa e luzidia, que te torna tão agreste ao primeiro olhar humano. Não me esperavas já… no tempo em que te repudiei ter-me-ia tornado um caso perdido, incapaz de olhar o quanto tens para me mostrar, pela experiência ganha em longas horas de observação e investigação cuidadosa e atenta dos meus gestos, falhanços e ambições mais profundos.
Soube desde então que serias o meu melhor amigo, o meu porto seguro no qual atraco nos dias em que todos os outros se tornam demasiado fortes, e a pauta que me rege demasiado pesada e irascível. Respiro-te com os olhos fechados, envolvida numa calma que me transcende, num momento quase sobrenatural, o meu nirvana, onde me procuro em ti. Não te esqueço nem nos dias em que o som da felicidade embala as minhas noites, tocando-me para cá e lá, suspensa por fios dourados com organza champagne, decorados com rosas brancas, de tecido, salpicadas por um brilho místico e seguras em feixes de luz branca, etérea.
Agradeço a paciência e o tempo que me deste, espero que outros te compreendam e sintam o prazer de sentar por uns minutos no teu colo almofadado de nuvens, ladeado de heras celestiais, tão magníficas quanto a tua essência. O meu tempo, hoje, é teu.

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2008/11/03

Momento Danone

"Fazes-me dançar no meio da rua."
(Muito gosto eu dos mimos destes iogurtes)

2008/11/01

Sussurros na Noite

Todas nós vemos o rosto a ficar mais pesado, a pele a secar, os sulcos da idade mais carregados e o cabelo a cair, cada vez mais, como um grande Outono da vida. Todas sentimos a perda da elasticidade dos risos que outrora demos, das mãos que vão ficando brancas, das pernas que suportaram todo um percurso. Mas poucas são as que, no final do dia, ao descalçar o chinelo, que aquece o pé cansado do caminho a casa, respondem com satisfação à eterna questão “Será que fiz tudo?”.
Durante a vida, as opções são muitas. Às vezes tomamos o rumo correcto, noutras criamos um caos imenso, que nos sufoca diariamente. Aí sentimos que tudo perdeu a lógica, a coerência e importância do plano que rabiscámos numa mesa de café aos dezasseis. Quer pensemos numa vida a dois ou mais solitária, quer queiramos ser doutores ou aproveitar os dias na inércia amorfa, naquela altura tudo parece claro e intocável, como se ganhasse uma imunidade que nenhuma força terrestre pode abalar. Traçamos projectos, definimos princípios que juramos nunca violar, julgamo-nos deuses, criadores do magnífico, capazes de mudar o Mundo, temos asas poderosas que nos tornam imortais. Mas, naquele momento, ao descalçar o chinelo, o cansaço vence e esquecemos que já fomos rainhas, reis e deuses.
Olhamos à volta e vemos que, afinal, pouco foi o que mudámos; que o Mundo continua o seu curso, como um rio, que corre imperturbável por quantas pedras atiremos. A perna, que toda uma vida nos atormentou, estala... Acordamos para a realidade, essa foi a grande constante na nossa existência. Viramo-nos para o lado, na esperança que a dor que atacou o membro assombrado desapareça. Ao nosso lado os lençóis balanceiam-se num contínuo agradável; perdeu cabelo, ganhou uns quilos, mas mantém o mesmo ar, a mesma calma e tranquilidade quando vencido pelo sono. A dor parou, voltamos a divagar. A vida é como uma montanha russa, daquelas mais excitantes, tem altos, baixos, rectas, curvas e zonas que nos refrescam. Aproveitá-la-emos se mantivermos os olhos abertos, sentindo a ansiedade, a felicidade, o medo e a paixão forte, no prazer de saborear cada passo. “Terei feito tudo?”… A questão controla o universo, como se nesse instante a própria vida dependesse dessa resposta. Não queremos no entanto saber se fizemos “tudo”, mas se o “tudo” que fizemos foi o que nos tornou efectivamente o mais felizes possível. Viramo-nos mais uma vez. A idade já não perdoa os ossos e a hérnia acabou de nos relembrar da sua presença. Não foi convidada, mas fez questão de se juntar à perna maldita no nosso longo caminhar. Fechamos os olhos, relembramos à força o rabisco na mesa aos dezasseis, quando o nosso prazer estava em ouvir The Doors ao entrar pela noite, perdidos na magia das estrelas. Que princípios e ideais pelos quais nos batíamos? Que queríamos ser? Olhamos de relance a face serena ao nosso lado e pensamos: “Sim, aqui não me enganei…”. Fechamos os olhos novamente. “Mas como teria sido com os outros?”. Várias faces nos vêm à memória; João, o primeiro amor… “Como era mesmo?”. Não nos lembramos bem, nem sabemos mais a cor dos olhos dele, foi há muitos anos, cinquenta, pelo menos. Tiago, o amor dos dezasseis, o que ficou connosco para sempre na mesa do Mandarim, com quem partilhámos tudo pela primeira vez. Coramos. Aí a memória não nos falha, nem do sinal microscópico que tinha junto à sobrancelha, mais visível quanto mais irritado estava. Era rebelde, tinha sempre um casaco de cabedal com epítetos estranhos e o cabelo muito puxado para trás, era o terror dos pais. Tinha um perfume inconfundível, que se entranhava na pele e acompanhava para todo o lado. Inspiramos profundamente e… aah, quase sentimos o cheiro, como se nunca nos tivesse deixado. “Que será feito dele?” A última vez que ouvimos falar dele foi há tantos anos que nem nos lembrávamos já. Estava em Nova Iorque, a fazer o quê? Nunca soubemos. “Não estaria melhor com nenhum dos dois”, temos por momentos a certeza, barrando de imediato a entrada aos fantasmas da nostalgia. Tocamos levemente a mão daquele que sempre esteve ao nosso lado. “Está fria. Deixa-me aquecê-la”, pensamos, como se se tratasse de um assunto vital. Terminada a tarefa, aconchegamo-nos nos lençóis polares, fiéis amigos nas noites mais frias. Escutamos os barulhos da rua, em plena zona citadina, à espera do tal João Pestana, com quem tínhamos grandes aventuras quando ainda nem sabíamos ler.
As fotos dos netos estão cuidadosamente colocadas na mesa-de-cabeceira. Olhamos para eles; um casal, do primeiro casamento da nossa filha, que desesperadamente gostaríamos de ver acompanhada “com alguém que cuide dela quando desaparecer”, desabafamos, inquietas, com a almofada. Não a queremos ver sofrer, nunca quisemos, mas a vida às vezes é tão penosa… “e ela sabe-o tão bem…”.
Apodera-se de nós um longo suspiro. Tão forte que quase acordamos os fantasmas da casa inteira. “Já fomos muitos, agora somos só dois e, um dia, apenas um…”. Sentimos o sono a chegar, quase abruptamente, para nos levar junto de Morpheu, onde ainda somos jovens e temos novamente tudo a percorrer. Sem dar conta, adormecemos.

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