Carta ao Silêncio
DR
A primeira vez que te encontrei estavas num lugar tenebroso, tocado pelo frio de uma mão malévola, a qual temia como ameaçadora da minha própria vida. Tudo à tua volta era estranho, inóspito, e imaginar-me contigo era uma tortura da qual fugia com todas as minhas forças.
Procurava o som da chuva, do vento, dos acordes que, no máximo da sua potência, saiam da minha aparelhagem nos dias em que o meu quarto se tornava uma porta aberta à tua entrada. Percorria as ruas mais movimentadas, sem fim definido, para, com o andar frenético das gentes e o murmúrio de centenas de transeuntes apressados, nos seus caminhos de formiga, do trabalho a casa, impedir a tua vinda, que me desesperava. Não adormecia sem o barulho da TV, ruído impessoal que se tornava a minha arma infalível contra o monstro cruel que, assim que tudo se calasse, me roubaria a alma e sugaria a essência, tu. Trauteava na minha mente, sem cessar, cânticos antigos, de Wagner ou Tchaikovsky, génios das bandas sonoras de grandes batalhas, como aquela que empunhava contra ti, todos os dias, esperando destruir até a tua memória. Eras o espelho demasiado fiel, que reflectia tudo aquilo que em mim não desejava ver, os cantos obscuros da minha existência, onde se escondiam os medos e a cobardia.
Assim caminhei pelos anos que foram mais teus do que meus, sem te vencer, tentando ouvir a tua voz que se aproximava com a entoação de uma melodia distante, até à qual ia caminhando, sem medo. Um dia estiquei a mão e toquei-te, sem dares conta, levemente, na tua pele escamosa e luzidia, que te torna tão agreste ao primeiro olhar humano. Não me esperavas já… no tempo em que te repudiei ter-me-ia tornado um caso perdido, incapaz de olhar o quanto tens para me mostrar, pela experiência ganha em longas horas de observação e investigação cuidadosa e atenta dos meus gestos, falhanços e ambições mais profundos.
Soube desde então que serias o meu melhor amigo, o meu porto seguro no qual atraco nos dias em que todos os outros se tornam demasiado fortes, e a pauta que me rege demasiado pesada e irascível. Respiro-te com os olhos fechados, envolvida numa calma que me transcende, num momento quase sobrenatural, o meu nirvana, onde me procuro em ti. Não te esqueço nem nos dias em que o som da felicidade embala as minhas noites, tocando-me para cá e lá, suspensa por fios dourados com organza champagne, decorados com rosas brancas, de tecido, salpicadas por um brilho místico e seguras em feixes de luz branca, etérea.
Agradeço a paciência e o tempo que me deste, espero que outros te compreendam e sintam o prazer de sentar por uns minutos no teu colo almofadado de nuvens, ladeado de heras celestiais, tão magníficas quanto a tua essência. O meu tempo, hoje, é teu.
Procurava o som da chuva, do vento, dos acordes que, no máximo da sua potência, saiam da minha aparelhagem nos dias em que o meu quarto se tornava uma porta aberta à tua entrada. Percorria as ruas mais movimentadas, sem fim definido, para, com o andar frenético das gentes e o murmúrio de centenas de transeuntes apressados, nos seus caminhos de formiga, do trabalho a casa, impedir a tua vinda, que me desesperava. Não adormecia sem o barulho da TV, ruído impessoal que se tornava a minha arma infalível contra o monstro cruel que, assim que tudo se calasse, me roubaria a alma e sugaria a essência, tu. Trauteava na minha mente, sem cessar, cânticos antigos, de Wagner ou Tchaikovsky, génios das bandas sonoras de grandes batalhas, como aquela que empunhava contra ti, todos os dias, esperando destruir até a tua memória. Eras o espelho demasiado fiel, que reflectia tudo aquilo que em mim não desejava ver, os cantos obscuros da minha existência, onde se escondiam os medos e a cobardia.
Assim caminhei pelos anos que foram mais teus do que meus, sem te vencer, tentando ouvir a tua voz que se aproximava com a entoação de uma melodia distante, até à qual ia caminhando, sem medo. Um dia estiquei a mão e toquei-te, sem dares conta, levemente, na tua pele escamosa e luzidia, que te torna tão agreste ao primeiro olhar humano. Não me esperavas já… no tempo em que te repudiei ter-me-ia tornado um caso perdido, incapaz de olhar o quanto tens para me mostrar, pela experiência ganha em longas horas de observação e investigação cuidadosa e atenta dos meus gestos, falhanços e ambições mais profundos.
Soube desde então que serias o meu melhor amigo, o meu porto seguro no qual atraco nos dias em que todos os outros se tornam demasiado fortes, e a pauta que me rege demasiado pesada e irascível. Respiro-te com os olhos fechados, envolvida numa calma que me transcende, num momento quase sobrenatural, o meu nirvana, onde me procuro em ti. Não te esqueço nem nos dias em que o som da felicidade embala as minhas noites, tocando-me para cá e lá, suspensa por fios dourados com organza champagne, decorados com rosas brancas, de tecido, salpicadas por um brilho místico e seguras em feixes de luz branca, etérea.
Agradeço a paciência e o tempo que me deste, espero que outros te compreendam e sintam o prazer de sentar por uns minutos no teu colo almofadado de nuvens, ladeado de heras celestiais, tão magníficas quanto a tua essência. O meu tempo, hoje, é teu.
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