2008/04/22

Ficções?


DR
Sonhei com o tempo em que a felicidade estava no caminho do bungalow à areia. O mar de um lado, delimitado no espaço, onde passavamos tardes de óculos de mergulho em busca de algo que lá no fundo se mexesse. O rio do outro, mais esquecido por nós, onde pescavam pacientemente homens e rapazes, à espera de algo no prato essa noite saísse dali. Até das anémonas chatas, das quais tínhamos de fugir insistentemente e que assustavam banhistas com a acidez do seu toque. Estavamos sentados, perdidos, quietos nos nossos horizontes, próximos, como se nem o vento passasse pelo espaço deixado entre os dois mundos que um dia se afastariam como meteoros em movimento. Parar seria corromper as asas de penas frágeis que foram crescendo com o tempo que não era nosso. Seria degladiarmo-nos até à morte, num duelo de gigantes, aumentado por tudo de forte e antagónico que nos une, uniu, no tempo em que verdadeiramente éramos deuses egípcios.
Recorro a esse tempo em momentos de pânico, não a ti, mas ao que outrora passeava pelos caminhos que também eram meus, como se nada, nem na terra nem fora dela, fosse capaz de interromper as passadas firmes que davamos a par. Mas nós conseguimos – às vezes, só às vezes, infelizmente.

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