2008/04/21

Dos Monstros Vencidos IV...

DR
Andava confiante o guerreiro, quase a sentir o vento da planície sagrada pelos cabelos longos, castanhos, quando, de repente, sem dar conta, um terrível monstro inimigo, muito maior do que ele e muito mais forte, o atira para bem longe. Sem armadura, mas ainda de espada em punho, o valente lutador tenta, em vão, controlar o voo forçado contra montanhas perigosas, cheias de bicos e fendas que abrem feias feridas pelas cicatrizes já curadas. Imóvel, como morto, o guerreiro pensa mais uma vez como o feroz combatente que outrora havia sido, sentindo raiva de si próprio por ter acreditado como vencidas as criaturas de pele escura e rugosa, com grandes punhos e dentes, perigosos como um animal selvagem que se sente encarcerado, sem comida. Indaga o valor daquela planície, o que significa a sua luta para os camponeses que ali vivem, se era realmente importante reunir a força que se esvaziava de todos os seus músculos. A respiração custa-lhe, as lágrimas de raiva caem sem se dar conta, avermelhadas pelo sangue que escorre pela face. Não consegue ainda avaliar a profundidade dos golpes, de tão estático que está. Apenas os olhos são fechados num movimento pausado, lento, pensado nos minutos que reflecte o porquê de ali ter parado, decidindo se fica e luta, ou vai para onde a sua presença é, de facto, essencial.

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