2008/12/10

Telegrama à Coragem

Há dias assim, em que o único som que ouvimos, muito ao longe, como se estivesse noutro espaço, noutra era, é o bater de um tempo que suaviza por momentos, e nos faz flutuar. Em que os arrepios nos fazem querer ficar, parados, até sermos tocados, envolvidos, abraçados profundamente, como se nunca aqui estivéssemos, mas sim ali, onde nunca deixámos de estar. Em que os dias que nos apagariam da memória, e nos tornariam meras imagens fugazes daquilo que um dia quisemos ser, se afastam para onde vai tudo aquilo que jamais acontecerá, perdendo-se no temor de um salto no vazio. Em que os medos, por momentos, desaparecem com a rapidez de um sorriso, e a profundidade de uns olhos que são livres dos grilhões impostos por uma mente complexa, fechada dentro de si própria, travando discussões acesas entre o ser, ou não ser. Deixamos escapar o brilho do que se sente, assim, sem proferir uma única palavra, olhando, apenas, com a vontade de divagar entre as curvas do horizonte. Há dias em que todas as cores parecem fundir-se num longo caminho, a percorrer calmamente, sem medo, retirando de cada passo a sabedoria de uma vida, respirando, até à meta, até ao futuro, que será sempre nosso. Há dias só teus.

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