2008/08/08

Desabafo

O Público dá aos seus leitores online, em cada notícia, a possibilidade de opinarem livremente sobre o assunto tratado. Concordo com a liberdade de expressão, saudando o jornal pela iniciativa. Mas por favor, extremismos ou xenofobias, por favor, divulguem-nos noutro local, pelos blogs, onde podem divagar sobre as maiores tolices que quiserem (como eu própria faço), sem mancharem as páginas de um jornal que, para mim, é realmente de referência. Hoje li, por acaso, os comentários de duas notícias que me deixaram francamente impressionada.

Logo pela manhã, dado que foi a grande notícia de ontem, abri o site para saber como tinha ficado o assalto/sequestro ontem na dependência do BES. Dois jovens assaltantes, um morto pelo grupo de operações especiais e um ferido, reféns ilesos mas muita tensão, normal para uma situação daquelas, aparato policial, cautela na informação dada aos jornalistas, uma notícia normal, imparcial, como deve ser. Referida também foi a nacionalidade dos jovens, brasileiros, o que desde logo despoleta nos mais extremistas rangidos contidos ou “pensam que isto é como no país deles” sussurados entre dentes, para si mesmos. Sei que assim é, sempre será e por mais que não concorde, cada um tem direito de se deitar com os ódios que quiser na cabeça. Irrita-me é ler no Público, de leitores do dito jornal que teria como inteligentes, comentários que extravasam em muito estes murmúrios ditos em surdina, para se coadunarem com máximas de partidos de extrema direita, generalizando o ódio à imigração, que "deve ser recambiada para o país de origem", e proferindo generalizações mais repugnantes que de momento prefiro nem citar. E daqueles que ainda há dois dias assaltaram idosos em aldeias do Portugal profundo (cujo nome não me recordo, mas não interessa porque isto é frequente), levando todo o dinheiro que tinham, deixando-os na miséria, ninguém fala?! De facto não tinham uma arma apontada, mas não será a fome, à qual ficam remetidos, igualmente grave, apesar de menos óbvia e mais demorada?! E tantos outros casos de criminalidade armada, nocturna ou diurna, de norte a sul do país, nos quais nenhum estrangeiro participa?! Ah, pois, são portugueses… o que fazemos com eles então? Mandamo-los exactamente para onde? Será a prisão suficiente? Já não sei, se outros merecem a morte e a extradição, como tratamos “os nossos”? Enfim… Eu fui sequestrada por dois brasileiros e olhem, cruxifiquem-me então por me ter metido meses depois com um compatriota desses “terroristas”. Estranhamente pareceu-me honesto, digno e excelente pessoa, melhor do que a maioria dos portugueses, como os há em todas as nacionalidades!

A segunda prende-se muito com a minha tendência e sei que pode ferir a susceptibilidade de muita gente, mas, perante a notícia de um detido em Guantânamo, enojaram-me as exaltações bacocas aos EUA. Sou adepta da democracia, no seu estado mais puro, seja essa apenas uma meta a alcançar numa sociedade mais justa, quer não. Democracia real, não aquela que existe nos EUA onde as condições sociais que sustêm as eleições são muito diferentes e estas nem sempre são claras, onde os jornalistas foram "aconselhados" a tratar sempre Saddam de "Evil" ou algo semelhante que não consigo precisar, mas que passou nos jornais há uns anos. Elogiarem o comportamento na sua “missão democrática”, esquecendo totalmente os interesses que estão realmente por trás de invasões no Iraque e afins, é demasiado banal e, francamente, está ultrapassado. Dizer que os EUA é o país onde todo e qualquer imigrante se sente realmente integrado como li hoje, após ter algumas noções das grandes distinções sociais entre grupos, essencialmente baseada na (im)possibilidade de chegar a um emprego condigno ou não, dos contratos precários que beneficiam o grande capital privado,do deficiente sistema de saúde que ao fim e ao cabo é bom para quem? Ah, para o que detém o capital e quem é esse, quem é? Todos, independentemente de cor, credo ou país de origem? Hmmm, não me parece, mas quem sou eu para afirmar o que quer que seja?
Se considerarmos os direitos humanos como algo inerente e universal, então todos os humanos, por o serem, estão abrangidos, sendo os que os violam igualmente culpados e condenados. Em Guantânamo, e noutros casos, vários, já sabemos que são efectivamente esquecidos esses direitos, mesmo por aqueles que ratificaram a DUDH. São prisioneiros de guerra, mesmo que seja uma guerra não convencional?! Então leiam a III Convenção de Genebra Relativa a Prisioneiros de Guerra, e já agora, todas as declarações do Direito Internacional Humanitário, e vejam o que é ser humano. São inocentes torturados até à confissão?! Ah esqueci-me, isso é um mito urbano, têm razão. Sobre o Plano Marshall ser uma acção de bom samaritano, que também li hoje… francamente, acham que se a Europa não fosse o maior comprador dos produtos dos EUA, se não fosse preciso a Europa estar bem economicamente para incrementar igualmente a economia desse país que levou um arrombo com a guerra cá deste lado e com a perda de possibilidade económica dos “grandes” europeus, se não fosse preciso afastar a influência soviética para suster o tentáculo que faz crescer os EUA, acham mesmo que teriam elaborado um plano tão “benemérito”?! Mais uma vez, não sou ninguém, mas custa-me um bocadinho acreditar.

Poderia estar aqui a escrever e contra-argumentar frases, palavras e opiniões com as quais discordo profundamente, chegando algumas a arrepiar-me de repúdio. Mas enfim… Quem sou eu? Ninguém.

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3 Olhares:

Anonymous Anónimo :

se são tão bons samaritanos, por que não ajudar a África com um grande plano de ajuda humanitária? E nem precisamos falar de meio ambiente...

gostei do debate.

19:17  
Anonymous Anónimo :

beeeem, se formos por aí temos grandes questões a colocar sempre: Há petróleo, não há? Há contrapartidas significativas ou não? É do interesse dos EUA ajudar por alguma razão especial? Se não for, podes sofrer nas mãos de um ditador da pior espécie, capaz dos piores actos ... alguém o tira do poder?

hmmmmmm

19:31  
Blogger Bruno S :

A estupidez dos comentaristas de notícias dos jornais está generalizada no mundo...

13:02  

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