2008/04/08

Dos Monstros Vencidos III

DR

Caminhando há alguns meses, com os pés fortes que sulcaram a cada passo o trilho traçado até agora, o guerreiro pára, e olha à sua volta. Atrás de si vê o caminho que percorreu, longo, seguro, agradável, e tem a certeza que cada zona verde ou pedra saltada foram a melhor escolha no seu trajecto. Nunca parara para pensar o quanto sentiria falta de cada pé de amora protegido, de cada planta semeada por ele, naquele planalto circundado de picos e montanhas. Que valor teria aquela terra serena, pela qual desembainhou espadas e punhais, cerrou punhos ferozmente contra inimigos cruéis? Sabia que, corajosamente, continuaria a almejar derrubar as fortalezas que limitavam o espaço conquistado aos grandes senhores das trevas. Por isso, não tirara facilmente a rede que o protegia, ou deixara que chegassem perto o suficiente para o acompanharem no caminho solitário que escolhera. Sentia ainda o peso dos olhares alheios, sedentos da sua queda, nos ombros que, com esforço, mantia direitos e firmes, sem menor incerteza. Sabia que a qualquer momento poderiam tentar tirar-lhe o chão e tinha de se proteger, sendo crucial um aliado tão forte quanto ele. Mas no caminho humanizara-se, aqueceu o sangue, o coração e a alma. Agora temia. Que o tempo fosse duro, o passado feroz, e a vitória da aliança intra-divina inatingível. Pensa então o próximo passo, não o sente, contrariando o homem dentro do guerreiro.

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