2008/05/13

Dos Monstros Vencidos V...

DR

Após longos momentos deitado na pedra fria à qual tinha sido atirado com a força de mil homens iguais a ele, o valente guerreiro começou a sentir os poderes da magia negra que o monstro lançara sobre ele. A pouco e pouco, sentiu um ar pesado entrar por todos os poros, percorrer todas as suas veias e artérias e chegar ao seu coração, gelando-o. Tentou em vão lembrar-se da coragem que o trouxe até àquela planície de aromas inebriantes e ventos apaziguadores, mas nem a imagem do templo supremo do corpo divino que venerava conseguiu vencer o fluido negro que o invadia. Parcialmente coberto pelo sentimento de terror escuro, num lugar onde o Sol não chega ou a água tem a composição de breu misturado com lodo, parado, o valente tentava erguer a cabeça, como em asfixia, mantendo a serenidade de um herói. Quem o visse naquele momento, não imaginava quantas as lutas que dentro daquele ser cansado se travavam ferozmente, como se ele próprio fosse agora o cenário de batalha. Ah como ele pensa agora, novamente, no camponês que ficara para trás, preso no tempo de estabilidade monótona, agarrado àqueles que lhe seguravam na mão e mostravam o parco futuro à sua frente. Calmo, sem aventura, sem grandes paixões e alegrias, mas certo como a morte. Mas não o queria mesmo assim. E o canteiro de amoras silvestres para onde olha agora e não consegue proteger, lança agora os seus espinhos na direcção do guerreiro, impelidos pela mesma força cruel, ilusória e viperina que enfrenta. Já falta pouco para tocarem fatalmente o corpo quase derrotado, se a coragem falhar, e ninguém vier ao seu encalço.

E termina aqui a história dos monstros vencidos, que afinal voltarão sempre para combater o herói, e atemorizar o camponês...

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