2007/07/17

Ficção*


Hoje acordei calma. Vi-te ao meu lado, num sono sereno e achei que tudo o que precisava estava ali. Não quis sair da cama, queria guardar por mais uns minutos aquele momento, quiçá o último das nossas vidas. Levantei-me silenciosamente para não te raptar do sonho profundo que o tremer dos teus olhos adivinhava. Os teus lábios formavam um sorriso perfeito. Seria eu a dar-te essa alegria no mundo dos raios de sol cintilantes e arroxeados? Fui à janela com um café bem quente nas mãos. Gostava que me olhasses como o elfo que sou, e não como uma mera mortal, pedaço frio do universo colossal que nos envolve. Gostava de ser astro-rei, acima de todas as amarras que te cortam os movimentos, que nos distanciam. De ter o poder de abarcar o teu ser, inseguro e instável, e apoiá-lo no caminho para um porto estável. Local onde temos asas e somos livres. Não digo que te amo, digo que és a companhia das horas longas, suporte nos caminhos duros e um bálsamo refrescante no trilho árido que percorri para te encontrar. Mas faltam cinco minutos para me ir embora, tenho de me despachar. A realidade cortou o paraíso matinal, no qual acordo de todas as vezes que adormeço a sentir a tua respiração ao meu lado. Fecho a porta. Saí.



*(qualquer semelhança com a realidade é mera coincidência)