2007/03/06

Déjà Vu

Integrações

Depois de tudo te amarei
como se fosse sempre antes
como se de tanto esperar
sem que te visses nem chegasses
estivesses eternamente
respirando perto de mim.

Perto de mim com os teus hábitos,
a tua cor e a tua guitarra
como estão juntos os países
nas lições escolares
e duas comarcas se confundem
e há um rio perto de um rio
e dois vulcões crescem juntos.

Perto de ti é perto de mim
e longe de tudo é a tua ausência
e é cor de argila a lua
na noite do terramoto
quando no terror da terra
juntam-se todas as raízes
e ouve-se o soar do silêncio
com a música do espanto.
O medo é também um caminho.
E entre suas pedras pavorosas
pode marchar com quatro pés
e quatro lábios, a ternura.

Porque sem sair do presente
que é um anel delicado
tocamos a areia de ontem
e no mar ensina o amor
um arrebatamento repentino.

Pablo Neruda, O Coração Amarelo

Há seis meses atrás "postei" este poema... agora, continuo a gostar imenso dele. O Neruda é fantástico. :P