Falsa questão
Agora que já estão a decorrer as campanhas para angariarem votos a favor ou contra “ o aborto”, seria bom iniciarem também uma campanha de clarificação do assunto, distinguindo o “aborto” da sua “despenalização”. Era fantástico que as pessoas entendessem que não está em causa concordarmos ou não com o aborto em si, com todas as disposições morais e éticas que o rodeiam, mas sim com a despenalização do método que, quer queiramos quer não, será sempre usado por milhares de mulheres anualmente.
A pergunta do referendo será: “ concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez…” e “não concorda com a prática do aborto”, o que não evoca nenhuma polémica moral, daí muitas pessoas considerem que nem deveria haver referendo. Porque outras leis não são referendadas, como por exemplo: concorda que os políticos tenham direito a reforma mais cedo? Ou concorda com o salário estipulado para este ou outro cargo? As respostas seriam com certeza engraçadas.
Eu sei que o tema em questão é mais sensível, mas também não podemos distorcê-lo ao ponto de criar uma controvérsia onde ela de facto não existe. Por mim falo, tenho quase a certeza que não conseguiria fazer um aborto, mas vou sem dúvida alguma votar a favor, quanto mais não seja para proteger todas as mulheres que por uma ou outra razão (que só a elas compete, e a mais ninguém), têm de recorrer a este método que imagino ser difícil e traumatizante. Não sejamos radicais, a despenalização não desresponsabiliza ou torna mais fácil a prática do aborto. Convenhamos, é um método doloroso, complexo, que envolve uma decisão não só física como psicológica e que deixa muitas vezes marcas profundas para o futuro. Ao despenalizarmos, é o lado físico da mulher que fará o aborto (com ou sem condições) que vamos proteger, mas nunca atenuaremos o golpe psicológico que desfere. Entendamos isso de uma vez por todas, e deixemo-nos de falsas questões.
A pergunta do referendo será: “ concorda com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez…” e “não concorda com a prática do aborto”, o que não evoca nenhuma polémica moral, daí muitas pessoas considerem que nem deveria haver referendo. Porque outras leis não são referendadas, como por exemplo: concorda que os políticos tenham direito a reforma mais cedo? Ou concorda com o salário estipulado para este ou outro cargo? As respostas seriam com certeza engraçadas.
Eu sei que o tema em questão é mais sensível, mas também não podemos distorcê-lo ao ponto de criar uma controvérsia onde ela de facto não existe. Por mim falo, tenho quase a certeza que não conseguiria fazer um aborto, mas vou sem dúvida alguma votar a favor, quanto mais não seja para proteger todas as mulheres que por uma ou outra razão (que só a elas compete, e a mais ninguém), têm de recorrer a este método que imagino ser difícil e traumatizante. Não sejamos radicais, a despenalização não desresponsabiliza ou torna mais fácil a prática do aborto. Convenhamos, é um método doloroso, complexo, que envolve uma decisão não só física como psicológica e que deixa muitas vezes marcas profundas para o futuro. Ao despenalizarmos, é o lado físico da mulher que fará o aborto (com ou sem condições) que vamos proteger, mas nunca atenuaremos o golpe psicológico que desfere. Entendamos isso de uma vez por todas, e deixemo-nos de falsas questões.
4 Olhares:
Concordo plenamente com o que dizes e com a frontalidade com que o fazes.
Esta questão, sensível sem dúvida, revela uma maturidade que seguramente os portugueses não conseguiram atingir. Poderíamos tecer vários comentários a respeito dos porquês. Mas esbarraríamos na nossa própria incapacidade para assumirmos os erros que ao longo da nossa história vitimaram milhões de seres humanos iguais a nós próprios.
Esbarraria no crescente de violência a que assistimos no nosso quotidiano social. Esbarraríamos na afronta a que somos sistematicamente sujeitos sempre que tentamos reivindicar os nossos direitos junto da nossa classe politica. Esbarraríamos nas exonerações com efeitos imediatos só para impedir que um quadro superior dê explicações a uma comissão parlamentar….
E poderia estar quase eternamente a referir pontos onde esbarraríamos na nossa mesquinhez e na nossa imaturidade…
Beijinho grande…
Durante toda a nossa vida, quer em ambientes sociais como íntimos, esbarramos com limitações, mesquinhez e preconceitos que tanto caracterizam o ser humano. Isso não nego. E normalmente cabe àqueles que conseguem distinguir no meio do caos das nossas cabeças, o que é correcto, guiar pelo melhor caminho a seguir e não pelo mais fácil. Ao nível social, várias campanhas obstam o nosso caminho, com várias vias e opções a seguir. Cabe-nos seguir a que consideramos a nossa via, a que mais se identifica connosco, sem medo de esbarrar com tudo o que disseste. Envolver uma questão com artefactos dissimulantes, enganadores, escondendo o ponto fundamental, é usual, mas cega-nos. O medo e o comodismo limitam o progresso e a evolução pessoal e da sociedade. Reconhecer isto é criar um atalho para decidirmos bem, no dia 11 de Fevereiro e sempre que for necessário.
M.
O sim não me convence... o não vai pelo mesmo caminho.
tenho um lençol de argumentos para cada um deles. Uns a favor e outros contra.
O resultado final é uma incerteza desgraçada. Mas o que te garanto é que o voto vai ser muito consciente. mas não vai ser no sim.. e não deve ser no não.
beijinho
fil.
Gostava de poder conversar contigo para partilhares comigo esse lençol de incertezas. :)
Não condeno a tua decisão, mas espero que a tomes em plena consciência da questão. :)
Beijinho
M.
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