Arrumações
Em determinada altura ou momento, acho que todos nós passamos por uma fase em que temos uma necessidade enorme de preencher o vazio que sentimos, estabelecendo metas diárias, com objectivos e coisas muito específicas para fazer. Há quem corte o cabelo para simbolizar uma nova fase, esperando que com a nova aparência venha também um novo espírito; há quem vá às compras, com o mesmo efeito; há quem passe as noites fora, ocupando as horas deprimentes, aquelas antes de adormecer, onde cada pensamento pode ser torturante; há quem apanhe brutas bebedeiras ou precise de sentir a adrenalina da vida com comportamentos de risco; há quem faça tudo isto e outros há que fazem muito mais, desafiando a própria morte para se sentirem vivos. Todos temos o nosso escape, aquilo que momentaneamente nos faz sentir bem, mesmo que no minuto seguinte digamos “não sei como aconteceu”. É normal, muitas vezes incensurável e compreensível. Acima de tudo é humano, até para aqueles que passam a vida com uma fachada de rezingões. Todos quebramos, todos nos sentimos sozinhos algumas vezes, todos olhamos para o chão em alguma ocasião da vida, por não sabermos muito bem o que fazer, impotentes.
Desta vez decidi viciar-me na Anatomia de Grey, e arrumar. Arrumar o quarto, arrumar o carro, arrumar as lembranças, arrumar as gavetas como se estivesse a preparar uma casa para novos inquilinos, onde tudo tem de estar guardado e em harmonia para não tropeçarem numa memória bicuda assim que passem o hall de entrada, descalços. É saudável, e por mim.
Desta vez decidi viciar-me na Anatomia de Grey, e arrumar. Arrumar o quarto, arrumar o carro, arrumar as lembranças, arrumar as gavetas como se estivesse a preparar uma casa para novos inquilinos, onde tudo tem de estar guardado e em harmonia para não tropeçarem numa memória bicuda assim que passem o hall de entrada, descalços. É saudável, e por mim.
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